Dirce Russo

View Original

Ana&Pedro

Hoje venho escrever sobre um tipo de projecto que me dá imenso gozo fazer, os murais.

O primeiro mural que fiz foi em 2017, podem ver aqui, um pedido do meu tio para a empresa dele, foram várias noites a riscar e a pintar a parede.
Depois deste mural surgiram outros projectos entre montras e paredes, mas o que vos venho falar aqui hoje, é a parede da casa da Ana e do Pedro.

Conheci a Ana através da ilustração, do design e do Senbazuru, espreitem o projecto dela, vale a pena!

Conhecia a Ana, conhecia o trabalho dela e sabia que tinha duas bailarinas em casa. E a história ficava por aqui.
Até que um dia, o Pedro entra em contacto comigo cheio de ideias para surpreender a mulher no aniversário, depois de algumas voltas eis que surge então um pequeno mural em casa deles! 💛

Fiquei super entusiasmada com a ideia de ir riscar mais paredes e ao mesmo tempo em pânico porque não sabia o que fazer! Havia uma ideia geral do que ilustrar mas estava tudo muito em aberto, mas após algumas conversas ficou decidido que o mural iria retratar o percurso de vida deles, e foi então que surgiu este jardim:

Adoro quando as pessoas me oferecem a possibilidade de criar sem limites, existe um tema, uma ideia principal mas o resto fica em aberto, fico sempre dividida entre o entusiasmo e o pânico, posso ter uma ideia que o cliente adore ou então que não goste nada, mas até hoje, o risco tem sempre compensado.

Desenhei um jardim ao retratar a vida deles porquê, para mim, um jardim e a natureza é a melhor forma de retratar a evolução, o processo. Há altos e baixos, as coisas demoram a acontecer, têm que ser regadas e têm que receber amor, pode aparecer uma pequena praga pelo caminho mas a situação é tratada e novas flores nascem.

Escolhi ilustrar folhas e flores porque me transmitem calma e alegria, e é exactamente o que a Ana transmite, uma paz incrível e muito carinho.

Apesar de já ter feito alguns murais, ainda estou a dar os primeiros passos, por isso ainda há material que não tenho, como por exemplo um projector para facilitar a passagem do desenho para a parede.

O meu processo nestes projectos começa sempre com o esboço digital que segue para aprovação do cliente, depois imprimo à escala e faço uma grelha sobre o desenho. Quando chego ao local, meço a parede e faço a mesma grelha na parede recorrendo a fita-cola de papel. Depois é só desenhar quadrícula a quadrícula para o desenho ficar o mais fiel possível ao original.

Confesso que apesar de ser este o esquema teórico, na prática “aldrabo” sempre um bocadinho e vou desenhando livremente. E é mesmo esta parte que me dá gozo, o desenhar livremente, o riscar com as canetas e saber que não há volta atrás, o assumir o erro se a linha não ficou exactamente onde devia ter ficado.

Passamos muito tempo a procurar ser melhores e perfeitos, a apagar e a fazer de novo vezes e vezes sem conta, mas… nos murais isso não acontece, uma vez feito não há como alterar, é esse o desafio, aceitar como ficou e aprender a gostar do nosso trabalho mesmo que não esteja perfeito para nós.

Este balanço entre digital e analógico, o tamanho das telas gigantes, o riscar as paredes…para mim, neste momento, é o que me dá mais gozo.

Dizia o meu pai no outro dia “Quando eras pequena ralhavam-te por riscares nas paredes, agora pagam-te para isso.” A sorte que eu tenho!!

Obrigada Ana, Pedro, e todas as sementinhas! 💛