O amor cura!
Já comecei a escrever esta publicação várias vezes, e volto sempre a apagar e a começar do zero, quero contar-vos como tudo aconteceu e o processo, mas a verdade é que só há uma maneira de descrever tudo: baba e ranho!
Sim, baba e ranho!
Faz quase um ano que a Sofia entrou em contacto comigo, contou-me rapidamente a história dela, a origem das cartas, o livro que estava a nascer e que queria que fosse eu a ilustrá-lo. Deu o meu contacto à Leya e eu fiquei em pulgas, afinal era ilustrar um livro e a editora era a Leya, A Leya!
Mas mal recebi as primeiras cartas não aguentei e desfiz-me em lágrimas, a minha avó tinha partido há pouco mais de meio ano, e ainda não tinha aceitado a ideia que ela não estava aqui, que nunca mais a ia ver, tocar…portanto tudo o que a Sofia escreveu sobre a perda, a saudade, o céu e o amor tocou-me muito.
Penso que não houve uma única ilustração que não tivesse feito com lágrimas nos olhos, umas vezes de forma controlada (quando não estava sozinha em casa), e outras de forma completamente descontrolada.
Quando vi o ficheiro do livro todo pronto para impressão, voltei a ler tudo para perceber se as ilustrações encaixavam bem com a mensagem e se seria preciso fazer algum ajuste, adivinhem…voltei a chorar baba e ranho.
Já tenho o livro comigo há algum tempo, e no entanto ainda não tive coragem de lê-lo porque sei que há uma grande probabilidade de ficar com os olhos cheios de lágrimas novamente.
Confesso que não é o meu trabalho preferido, não fiquei com aquele sentimento de orgulho enorme quando o terminei (aquela exigência profissional e a procura pela perfeição), mas por outro lado tinha a certeza absoluta que, pela primeira vez, sem dúvida alguma, tinha sido feito com muito amor e carinho. Nestas ilustrações está o tio Ricardo, está a Sofia, está a mãe, o pai e a irmã da Sofia, está o marido e os filhos, está o meu avô Russo, o meu avô João, a minha Menina, está o Greno e o Bruno. E está sem dúvida alguma um bocado de mim.
“Minha menina,
A Sofia perguntou-me se eu não queria escrever uma carta para os meus avós, e eu, sem hesitar disse logo que não, não tenho jeito com as palavras, e muito menos para escrever, mas agora…olha, ando a escrever cartas para ti.
Ainda não consigo falar de ti sem chorar, sei que foste ter com o Avô, bem vi o que sofreste quando ele partiu sem ti, mas sou egoísta e só queria que estivesses aqui comigo, connosco.
Estavas mal, sofreste muito e todos diziam que foi o melhor, estivemos contigo no teu pior estado, a última imagem que temos de ti não é a mais bonita, no entanto sempre que me lembro de ti é a sorrir, com aquele sorriso carinhoso e brilho nos olhos tão característico de avózinha.
E sim, nós gostamos muito de ti e do avô e somos vossos amigos. Estavas sempre a perguntar se eramos vossos amigos.
Desculpa não conseguir falar de ti, não consigo que começo logo a chorar, bem sabes a Maria Madalena que sou. Aliás nem consigo escrever sem estar com o nariz a pingar. Desculpa.
E desculpa não ter estado lá no último momento.
“Podes ir ter com o avó. Gosto muito de ti minha menina.”
Com amor,
Da tua menina”
Podem encontrar o livro em várias lojas e livrarias, ou através do site da Leya!